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Maisa Caroline

“Versão Brasileira: Gota Mágica, São Paulo.”

Conheça a história do estúdio de dublagem Gota Mágica. Responsável por trabalhos como Os Cavaleiros do Zodíaco, Sailor Moon e Fly, o Pequeno Guerreiro.

“Versão Brasileira: Gota Mágica, São Paulo.” O coração da gente até acelera ao ler, né? Você se lembra bem dessa vinheta, claro ou com certeza? (=D) Este estúdio foi um verdadeiro fenômeno na história da dublagem brasileira.

Posso compará-lo a uma dessas paixões avassaladoras que duram uma estação, geralmente o verão, que costumeiramente se vê em filmes e novelas e até no mundo real mesmo. E digo isto, pois a Gota Mágica em apenas 4 anos de existência arrebatou e surpreendeu o mercado da dublagem e o coração de muitos fãs, que até hoje se recordam com saudade daqueles tempos, como numa paixão de verão.

Tudo isso fruto de um excelente trabalho realizado lá atrás e que a partir de agora você terá a oportunidade de conhecer, mergulhando nessa história magnífica dos estúdios: Gota Mágica.  

Mário Lúcio de Freitas está para Gota Mágica, assim como: Herbert Richers e Michael Stoll estão respectivamente para a Herbert Richers S.A. e a Álamo. O impacto e a repercussão da Gota Mágica foram tamanhos que a produtora conseguiu fazer frente a estas duas dubladoras já consolidadas e líderes há bastante tempo no país naquele momento.

Igualmente talentoso e visionário como seus antecessores, Mário Lúcio de Freitas empreendeu no mercado da dublagem e fez história, transformando sua empresa em referência de qualidade no ramo da dublagem. 

Como um furacão, a Gota Mágica passou arrasando e deixando vestígios de sua qualidade pelo mercado da dublagem e em pouco tempo de existência (1994-1998), conquistou o respeito e reconhecimento que se estende até os dias de hoje.

Afinal, quem não se lembra das dublagens e aberturas icônicas de produtos como: Cavaleiros do Zodíaco, Sailor Moon, Bananas de Pijama, Os Ursinhos Carinhosos, Punky, a Levada da Breca e outros mais. Todos, com a assinatura do brilhante artista: Mário Lúcio de Freitas.

Tema de abertura do desenho animado Os Ursinhos Carinhosos
Tema da série e do desenho animado Bananas de Pijamas

Agora, para se entender o fenômeno que foi esse estúdio, é preciso voltar um pouco no tempo e conhecer a trajetória do criador da Gota Mágica e compreender como se deu esse processo na dublagem que culminou em trabalhos inesquecíveis.

Foi na década de 1950 que tudo teve início, quando aos 4 anos de idade Mário Lúcio de Freitas deu o pontapé inicial na sua carreira artística, atuando e cantando em peças de teatro no circo de sua família.

Seu primeiro personagem chamava-se Fominha, um palhacinho bem carismático, que fazia dupla com seu irmão, Mauro Renée, nos picadeiros.

E ali já tão novinho despontava para a carreira de sucesso que teria nas Artes. Então, logo o circo ficou pequeno para tanto talento e na década seguinte acontece sua estreia na telinha da TV Paulista, cantando, atuando e apresentando. 

Em 1961 na TV Tupi atua na série O Vigilante Rodoviário, fenômeno de audiência, chegando a ir para o cinema, tamanha foi a repercussão da série. Nesta época tem sua primeira experiência com dublagem, pois devido à má captação do som direto durante as filmagens externas, os filmes nacionais (todos) eram costumeiramente dublados em estúdio na fase de pós produção.

Mário Lúcio de Freitas aos 4 anos de idade como o palhaço Fominha

Já em sua adolescência se torna apresentador de programas infanto-juvenis na televisão como: Parque Petistil e a Sessão Zás-Trás. Como multiartista que é, também integrou vários conjuntos musicais em sua juventude tais como: The Beatnicks, Os Iguais, Os Incríveis e The Jet Blacks.

E foi nestes conjuntos, revezando entre as funções de guitarrista, baixista e cantor que conheceu e trabalhou ao lado do também ator, cantor e dublador Marcelo Gastáldi (a voz brasileira do Chaves), formando ali uma parceria de sucesso que se estenderia por toda a vida.

A partir deste momento sua carreira como produtor, compositor e diretor deslancha e na década de 1970 cria a primeira revista de músicas cifradas (Violão & Guitarra) do Brasil e um método de aprendizagem único para tocar violão.

Dirigiu a parte musical de alguns programas de TV e inúmeros artistas, como: Nelson Ned e Moacyr Franco

Mário Lúcio de Freitas e Marcelo Gastáldi no centro da foto junto a seus companheiros do conjunto musical Os Iguais.

Já nos anos de 1980 na TV Cultura passa a ensinar aos telespectadores a arte de tocar um instrumento no programa: Violão pela TV ao lado de Marisa Leite de Barros. Nessa mesma época ainda grava um LP intitulado Gota Mágica, um trabalho solo e autoral, onde produz e realiza os arranjos musicais e começa a se dedicar a publicidade, criando jingles, trilhas, locuções e mais.

Uma de suas campanhas mais famosas, vencedora de uma concorrência internacional, responsável por espalhar seu jingle ao redor do globo terrestre, foi: “Ruffles a batata da onda” da Batata Ruffles. Uma outra campanha de sucesso em que atuou como voz original (personagem aluno), foi a da Tostines, dizendo o famoso slogan: “Tostines vende mais por que é fresquinho ou é fresquinho porque vende mais? Qual será o segredo de Tostines?”.

Campanha publicitária da Batata Ruffles

Sua carreira ia de vento em popa na publicidade até que um amigo das antigas, Marcelo Gastáldi, liga para Mário Lúcio de Freitas pedindo-lhe uma ajuda com a dublagem, especificamente a parte musical dos produtos estrangeiros na TVS (atual SBT) e lá foi ele resolver.

A dublagem naquele período passava por transformações e agora com o advento do videotape as produções vinham neste formato com as músicas e efeitos sonoros já mixados em um único canal, sem a possibilidade de separá-los, logo ao se dublar perdia-se os sons originais, restavam-se somente as imagens e tudo havia de ser refeito.

Foi então, que Mário Lúcio de Freitas começou a produzir trilhas, vinhetas, aberturas e mais obras musicais para o SBT.

E foram realizados muitos trabalhos marcantes por lá, por exemplo as músicas incidentais (músicas de cena ou de fundo feitas exclusivamente para acompanhar um produto) de diversos programas e novelas. Os Ricos Também Choram (1982) a 1ª novela mexicana a ganhar uma versão dublada no Brasil e que teve uma música em português criada para sua abertura é um exemplo.

Assim, durante os 15 anos em que prestou serviços ao SBT, produziu mais de 50 músicas para seus produtos audiovisuais e torna-se referência no mercado com uma coleção de sucessos, como as músicas de aberturas feitas para séries e desenhos: Punky, A Levada da Breca, Ursinhos Carinhosos, Jem e as Hologramas, Moranguinho, Meu Querido Pônei, Chaves e Chapolin e muitos outros.

Vale lembrar que algumas dessas aberturas são versões originais criadas para os produtos audiovisuais e comumente dividindo-se as funções entre os parceiros de trabalho, ou seja, enquanto um encarregava-se da melodia o outro encarregava-se da letra e assim criavam as canções.

E um desses excelentes parceiros que teve na vida, foi nada mais nada menos que novamente o saudoso e talentoso dublador Marcelo Gastáldi. Ainda sobre suas contribuições na emissora de Silvio Santos, Mário Lúcio de Freitas criou diversas vinhetas para programas como: Hebe, Programa Livre, Aqui Agora, TJ Brasil e mais.

No ano de 1987 realizou vários trabalhos para o Maurício de Sousa como a animação Estrelinha Mágica e o LP da Turma da Mônica e no ano de 1989 o LP do Chaves com várias músicas originais criadas especialmente para a série no Brasil.

Tema de abertura da série Chaves

Chega a década de 1990 e Mário Lúcio de Freitas mais uma vez empreende e cria seu estúdio, o famoso e impactante: Gota Mágica. Contudo, esta empreitada só aconteceu porque ele e seu sócio em outro empreendimento cultural (a produtora Marsh Mallow) vinham divergindo bastante e buscando evitar mais transtornos decidiram-se pelo rompimento da sociedade que foi criada lá em 1985 em virtude da crescente demanda de trabalhos na área do audiovisual.

E foi justamente por todo know-how no ramo de direção musical para dublagem, com criação de temas, vinhetas, jingles e afins para programas e sua trajetória no campo das artes como: ator, cantor, arranjador, compositor, músico e mais funções, tudo isto lhe rendeu um convite inesperado e que mudaria sua carreira mais uma vez. 

Foi através de um telefonema do empresário da Samtoy (empresa de brinquedos), o espanhol Manolo, oferecendo-lhe um produto novo a ser dublado no Brasil que tudo mudaria. O produto qual era? Ah, claro, a série: Os Cavaleiros do Zodíaco! Ainda que Mário Lúcio de Freitas tenha pesquisado os valores no mercado e cobrado um preço bem mais alto do que a Herbert Richers, na época a mais importante dubladora, ele foi surpreendido pela adesão da proposta, uma vez que fora muito bem recomendado.

Então, mesmo sem experiência em dublar e dirigir séries inteiras, convocou um elenco de feras na dublagem e realizou um trabalho que para além de primoroso, marcou gerações e rendeu inúmeros frutos.

Os Cavaleiros do Zodíaco, então, você fã do Versão Dublada e principalmente leitor ou leitora desta coluna (S2) já sabe da enorme importância que estes tiveram  para a cultura pop/geek no Brasil e claro, para a Gota Mágica.

Pois a partir daí, com a sua dublagem, o estúdio obteve muita notoriedade no mercado e além de atuar nesse ramo, passou a realizar comercias de produtos licenciados dos Cavaleiros e até um CD deles foi gravado por lá.

E ainda devido ao grande sucesso da série, foram abertas as portas do estúdio tanto para os fãs como para a imprensa conhecer mais e divulgar o trabalho das vozes por trás dos personagens dublados, bem como os outros profissionais da área do audiovisual.

Retirando assim de vez essa galera do anonimato! No rastro desse sucesso logo vieram mais trabalhos e com dublagens memoráveis, como: Dragon Ball, US Mangá, SuperCampeões, Guerreiras Mágicas de Rayearth, Bananas de Pijamas e tantos outros. Inclusive, alguns desses produtos ainda tiveram CDs gravados e com muita vendagem no mercado.

A título de curiosidade, grande parte das músicas temas, desde lá de trás, tiveram a interpretação na voz potente da cantora Sarah Regina.

Tema de abertura de Os Cavaleiros do Zodíaco

Entre 1994 e 1998 foram muitos os trabalhos realizados na Gota Mágica, dublagens para TV, cinema, produção musical, arranjos e até na área editorial, especificamente revistas, eles marcaram presença.

Porém, como ela foi criada para o uso compartilhado entre três empresas e com o fechamento de uma delas logo no início de suas atividades as outras duas não suportaram a sobrecarga e aliado ao fato de ser uma empresa ainda jovem, ela não detinha de capital suficiente para se manter ativa e veio a fechar.

Mas, é como dizem por aí:“Tudo o que é bom, dura o tempo necessário para ser eterno.” E esse tempo durou 4 intensos anos de muito trabalho para que a Gota Mágica com a condução do maestro Mário Lúcio de Freitas provocasse um reboliço no meio da dublagem e fosse responsável por perpetuar momentos inesquecíveis através das produções que realizou em seu estúdio.

Sendo assim, só posso dizer: Obrigada por tanto! Aplausos, muitos aplausos ao maestro e a todos que passaram pelo estúdio dividindo a sua arte conosco.

Atualmente Mário Lúcio de Freitas, a mente criativa por trás de tantos trabalhos maravilhosos que você pode conhecer e recordar neste texto, continua exercendo seu talento no campo das artes ao lado de sua esposa a também talentosa e criativa artista, Hellen Palácio.

Em parceria, eles produzem livros e audiolivros inspirados na cultura oral popular brasileira, as cantigas de roda. Um trabalho lindo de resgate cultural, incentivo à leitura, inclusão e sobretudo uma maneira da criança experienciar as várias possibilidades de leitura que existem.

Os audiolivros que vem junto dos livros físicos contam com uma produção musical  e artistas de voz excelentes que interpretam as cantigas e as historinhas, tudo com aquele padrão de qualidade: Gota Mágica. Fruto das experiências adquiridas em suas carreiras. 

Hellen e Mário na divulgação de seus livros/audiolivros

E aqui cheia de boas recordações desse estúdio incrível e ainda impactada com tanta coisa que descobri e compartilhei com você, eu me despeço ansiosa por nosso próximo encontro aqui na coluna! (=D) Mas, não sem antes querer saber as suas impressões sobre o texto de hoje, me conte aqui abaixo, tá? Compartilhe com seus amigos e até semana que vem com mais curiosidades sobre a dublagem na história!

6 Comments

  1. Amanda says:

    O que dizer desse estúdio que durou pouco mas considero pacas? Hahah
    Assim como Álamo e Herbert Richers deixou muita saudade. Mesmo durando apenas quatro anos, foi responsável por dublagens reconhecidas por sua qualidade até hoje!
    Suas colunas são uma verdadeira viagem no tempo, principalmente para a
    minha infância. Continue assim!

    • Maisa Caroline says:

      Ah, que linda! Esse estúdio mexe demais com a gente mesmo! Muita memória boa vem à tona! Vou continuar trazendo muita coisa legal sim e você continue por aqui viajando no tempo comigo! 💛🤩😘

  2. Marcela Ilustrapop says:

    Nossa aprendo demais lendo seus textos, amei saber sobre esse estúdio que nos deu tanta coisa boa em tão pouco tempo!!! E acho incrível essas pessoas que empreendem e manifestam sua Arte desde cedo como fez o Mário Lúcio de Freitas !!! Nossa que prodígio né ?! E um cara talentoso que fez e faz tanta coisa até hoje !! Só posso aplaudir !!! Obrigada por pesquisar e compartilhar conosco histórias tão incríveis como essa! Nessas histórias você nos traz dublagem, memória, cultura, vida e arte !!! Como não amar ?!

    • Maisa Caroline says:

      Uau mana, que lindo seu comentário! Obrigada! É exatamente isso o que sempre procuro trazer pra coluna: dublagem, memória, cultura, história, alegria, vida, arte… tudo junto! hehehe Também fiquei maravilhada enquanto estudava o tema e corri pra compartilhar! E sim, não tem como não amar! hehehe 💛🤩😘

  3. says:

    Oi amiga querida!

    “Tudo o que é bom, dura o tempo necessário para ser eterno.”, essa eu não conhecia, mas sim! Sem dúvidas é a melhor versão deste “dito popular”, ainda mais se pararmos para pensar na brilhante carreira do Gota Mágica e seu fundador. Sério, muitos aplausos a ele e toda a equipe que esteve ao seu lado!

    Amei conhecer mais de sua biografia, e também conhecer um pouco da história deste grandioso estúdio, que apesar de sua breve existência, marcou minha infância, uma vez que ao menos uns 75 – 80% de suas obras eu acompanhei e fui fã!

    Eu adorei a novidade dos áudios no texto, foram fundamentais para despertar a nostalgia rs E adorei saber que Sr. Mário é o responsável por um dos slogans mais legais entre os produtos que amo, afinal “Rufles a batata da onda” é sensacional, tão que até fiquei com vontade de comer uma agora haha

    Por fim, adorei o novo visual da página e a possibilidade de edição do texto aqui *-*

    Beijos e lembranças cordiais a toda a equipe!

    • Maisa Caroline says:

      Oi Lelê! Que máximo que esse texto despertou tantos sentimentos bons em ti, tão bons que sentiu até fome ao ouvir o slogan! hahaha Ele é um artista incrível mesmo, com admirável repertório! Quanto aos áudios, quis trazer elementos novos pra tornar a leitura mais interessante, nostálgica e dinâmica. Bom, parece que deu certo! rs Então, quando for possível trarei mais. Por fim, sobre a possibilidade de editar: é uma maravilha mesmo! hehehe Nossos pedidos foram atendidos, ficou excelente! Obrigada por sempre contribuir aqui na coluna! 💛🤩😘

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