Fábio Lucindo

UM

ESTREIA! Fábio Lucindo, ator e dublador, começa a sua jornada no site Versão Dublada em sua coluna semanal trazendo crônicas e ficções do dia a dia da dublagem.
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Quando certa acordou de sonhos intranquilos, encontrou-se em sua cama metamorfoseado num cronista. Estava deitado sobre alguns livros e, ao levantar um pouco a cabeça, viu seus óculos distantes, sujos, divididos por nervuras arqueadas, no topo dos quais a coberta, prestes a deslizar de vez, ainda mal se sustinha. Suas duas mãos, lastimavelmente mudas em comparação com o alcance de sua , tremulavam desamparadas diante dos seus olhos.
– O que ? – pensou.

era um . Seu quarto, um autêntico quarto humano, só que um pouco pequeno demais, permanecia calmo entre as quatro paredes bem conhecidas, era um quarto/. Sobre a mesa, na qual se espalhava, todo enrolado, um par de fones de ouvido – Fábio era /.

Prendia a que ele havia recortado fazia pouco de uma revista ilustrada e colocado numa bela moldura dourada. Representava um senhor de chapéu de pele e boá de pele que, sentado em posição ereta, erguia ao encontro do espectador um microfone, era .

O olhar de Fábio dirigiu-se então para a janela e o turvo – ouviam-se gotas de chuva batendo no zinco do parapeito – deixou-o inteiramente melancólico.

– Que tal se continuasse dormindo mais um pouco e esquecesse todas essas tolices? – pensou, mas isso era completamente irrealizável, pois estava habituado a falar textos de terceiros em vez de escrever seus próprios, e no seu estado atual conseguia se imaginar nessa posição. Qual quer que fosse a firmeza com que pegasse a caneta com a mão direita, balançava sempre de volta, pois é canhoto.

Tentou isso umas cem vezes,  fechando os olhos para ter de enxergar a grafia desordenadamente agitada, e só desistiu quando começou a sentir na mão esquerda uma vontade nunca experimentada, leve e surda.

– Ah, meu Deus! – pensou. – Que profissão cansativa escolhi. Entra dia, sai dia – dublando. A excitação comercial é muito maior que no próprio e além disso me é imposta essa canseira de “quebrar galhos”,  a preocupação com a troca de personagens, as refeições irregulares e rápidas, um convívio humano que muda sempre, jamais perdura, nunca se torna caloroso. O diabo carregue tudo isso!

BORA ESCREVER NO VERSÃO !

fez o convite.

Aceitei.

Apelei pra um pra começar essa minha metamorfose.

Desculpem a eventual covardia.

!

Quer me falar algo? Deixa nos comentários ou me manda um e-mail! fabio.lucindo@versaodublada.com.


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