“Bom dia, estimados vizinhos da vizinhança!” É tomando a liberdade de usar as palavras do seu Madruga que começo meu texto. Obviamente, não poderia deixar de me apresentar. Me chamo Jônatas Holanda, um apaixonado pela língua espanhola e exímio estudioso da vida e obra do senhor Roberto Gómez Bolaños. Por conta disso, desde 2015 cuido do perfil @chespirotadas (Facebook e Instagram), onde compartilho o fruto de minhas pesquisas. Meus textos aqui, sempre estarão voltados para essa temática; vamos explorar o “Universo CH” e consequentemente a sua dublagem.
Todo mundo em algum momento na vida, nos últimos 36 anos, já se pegou com a TV ligada e assistindo a um programa que apesar de não ser brasileiro se confunde com a história da nossa cultura. As últimas quatro gerações cresceram vendo na TV as peripécias de um menino pobre, que se escondia em um barril e passava pelas mais diversas situações com os moradores da vila onde ele morava. Claro que estamos falando de Chaves, ou “El Chavo del Ocho” (O menino do Oito, no original em espanhol).
Criada no México, no começo dos anos 70, essa série veio para cá meio que por acaso. O SBT (que na época se chamava TVS) havia feito parceria com a Televisa, conglomerado mexicano que produzia Chaves e as outras séries de Roberto Gómez Bolaños, para comprar e exibir as famosas novelas que seriam uma marca do canal de Sílvio Santos. Como forma de brinde foram enviadas algumas fitas com alguns capítulos de Chaves e Chapolin. A princípio, se dependesse do sr. Abravanel e de outros executivos da TVS, as fitas iriam diretamente para o arquivo sem nunca terem sido vistas. E é aí que a Dublagem salva as séries pela primeira vez!
Explico: Se até a presente data temos a oportunidade de assistir à série na TV, muito disso se deve a um senhor chamado Salathiel Lage. Ele era o diretor do núcleo de dublagem da TVS. Naquela época os produtos eram dublados em película, nos estúdios de dublagem. O SBT foi o pioneiro a fazer dublagens direto para o vídeo tape, tendo seus próprios estúdios. Neles, algumas cooperativas de dubladores prestavam serviços, dublando as já mencionadas novelas, filmes e outros programas importados. Como exemplo dessas cooperativas, temos a Elenco e a MaGa.
Pois muito bem, o sr. Lage foi quem insistiu junto a Sílvio Santos para que se desse uma chance de dublar as séries de Chespirito. Os executivos, maldosos, diziam que não havia outro motivo para dublar aquilo senão por interesse de Salathiel em lucrar, pois afinal seria mais um trabalho para o setor dele dublar. Eles disseram que esses programas jamais fariam sucesso. Salathiel insistiu, dizendo que esse seria o tipo de programa que seus filhos queriam assistir, pois eram leves, sem malícia, algumas vezes pastelão. E assim Sílvio autorizou a dublagem de alguns episódios, como forma de teste.
Salathiel então convocou Marcelo Gastaldi, líder da MaGa (cooperativa que levava suas siglas no nome), para montar uma equipe para traduzir e dublar esse primeiro lote de episódios experimentais das séries mexicanas. E é aí que a Dublagem salva as séries pela segunda vez!
Continuo me explicando: Lage e Gastaldi tiveram o tato de escolher um elenco super afinado, que já de primeira entraram em sintonia com o produto, tornando-o o sucesso que ele é até hoje no nosso país. Sim! Se Chaves é sucesso no Brasil, podemos atribuir à maravilhosa versão MaGa!
É inquestionável que o texto de Roberto Bolaños é quem fez seus programas serem os melhores em vários países da América Latina, mas esses textos, essas piadas estavam em espanhol. O Brasil estava preparado para assistir tudo no original? Não! Não estava nos anos 80, não estão hoje. Era preciso ter uma VERSÃO DUBLADA! E a MaGa não só deu essa versão dublada como deu a cara brasileira que Chaves tem hoje. Chaves é mais nosso que dos mexicanos! Seu Madruga, por exemplo, é nosso. Lá eles têm o “don Ramón”!
Na tradução, adaptação e direção da dublagem de Chaves surgem os nomes do próprio Marcelo Gastaldi, Nelson Machado, Carlos Seidl e Potiguara Lopes. Eles também acabaram dublando alguns personagens da série. Marcelo Gastaldi ficou com o Chaves (personagem de Chespirito), Nelson Machado dublou o Quico (Carlos Villagrán), Carlos Seidl era a voz de seu Madruga (Ramón Valdés),
Potiguara Lopes foi a primeira voz do professor Girafales (Rubén Aguirre), mas acabou cedendo o personagem para Osmiro Campos e passou a se dedicar apenas à tradução. No elenco ainda temos Mário Vilela (sr. Barriga/Edgar Vivar), Marta Volpiani (Dona Florinda/Florinda Meza), Helena Samara (Dona Clotilde/Angelines Fernández) e Sandra Mara Azevedo (Chiquinha/María Antonieta de las Nieves), que futuramente seria substituída por Cecília Lemes.
O resultado desse trabalho pode ser visto e ouvido até os dias de hoje. Infelizmente, o SBT não chegou a dublar todos os episódios das séries de Chespirito e isso fez com que outras empresas acabassem dublando posteriormente com um elenco diferente ao da MaGa, pois alguns dubladores já faleceram. Até hoje, nenhuma dublagem feita pós MaGa tem a mesma aceitação e carinho que ela. Ouvir o Marcelo Gastaldi no Chaves é tão natural quanto ouvir um parente nosso, com quem a gente cresceu junto.
Quem aqui dos leitores, pelo menos uma vez na vida, nunca deixou a TV ligada e foi fazer os seus afazeres em casa ouvindo as vozes de Marta Volpiani, Helena Samara, Osmiro Campos e companhia, pelo simples motivo de apenas querer ouvir suas vozes?
Portanto, um salve a essa obra atemporal, criada por Roberto Gómez Bolaños e outro salve a esse trabalho magnífico do senhor Salathiel Lage, Marcelo Gastaldi e os outros envolvidos na VERSÃO DUBLADA de CHAVES!
Agradeço a todos que leram até aqui, obrigado Ygor Guidoux pelo convite à Coluna de Chespirito e aguardo vocês nessa mesma coluna, nesse mesmo site, nesse mesmo dia!