Oi, pessoal! Aqui é o Ygor Guidoux e, para o Dia do Orgulho LGBTQIA+ convidei o Marcos Medeiros da página Planeta da Dublagem para dar voz nesse dia tão importante para a comunidade, o fechamento do Mês do Orgulho LGBTQI+. Confira o texto que ele escreveu.
Versão Dublada, fui!
Por: Marcos Medeiros
Estamos no mês que se comemora o Dia do Orgulho LGBTQIA+ (lésbicas, gays, bissexuais, transgênero, queer, intersexo, assexuados e mais) e o Dia dos Dubladores, respectivamente comemorados nos dias 28 e 29 de junho. Por tal motivo resolvi escrever um pouco sobre a representatividade dentro do mercado da dublagem e a importância para mim, que faço parte da diversidade que consome produções dubladas.
Falar de representatividade LGBTQIA+, é falar de lutas por direitos que nos são negados (como a recém conquista de doar sangue independente do seu gênero) e da invisibilidade desse grupo em alguns espaços como nas artes e política. Embora muita coisa tenha mudado, ainda há muito para mudar e estamos longe de viver num mundo onde ser quem você é, não te mate ou te coloque em risco.
Dentro da dublagem, essa discussão ainda é muito recente, mas graças aos dubladores da geração lacrolândia (pessoas que lacram, arrasam, a favor das minorias, que entendem seus privilégios e trabalham para quebrar esse sistema), ideias como produzir um curso de formação acessível para pessoas negras, gordes e LGBTQIA+ já estão sendo planejadas.
Só um adendo antes de continuar: o termo lacrolândia é um termo LGBTQIA+ que foi apropriado por pessoas fora do meio, para ridicularizar a causa e o diálogo sobre o assunto, para chamar de balbúrdia e negar a existência de preconceito no mercado de trabalho. Sejam da lacrolândia!
Devido a vital importância de se sentir representado, as produções audiovisual começaram encaixar os mais diversos públicos em suas histórias, mostrando um mundo mais plural e colorido, que não existe apenas pessoas brancas e heteronormativas.
As personagens LGBT em audiovisual já marcam presença há bastante tempo. No início de uma forma sutil onde não vemos nenhum afeto entre pessoas do mesmo gênero. Em outros momentos a persona se tornava hétero e se “curava” de ser gay. Outrora estereotipando gays como pessoas engraçadas, coloridas e que falam alto e as lésbicas como mulheres masculinizadas com voz grave. Isso sem falar que em grande maioria apenas atores héteros interpretavam as personagens da diversidade. É a representatividade chegava só até aqui.
De uma certa forma, o reflexo dos filmes e séries, chegou na dublagem. Era comum dubladores heterossexuais dublarem personagens gays com uma voz aguda e lésbicas com uma voz grave. Embora, hoje isso seja raro, muito pela preocupação dos diretores em encontrar pessoas capazes e que respeitem a obra. Não faz sentido colocar alguém homofóbico e machista para dublar um personagem gay.
Em nenhum momento estou dizendo que apenas dubladores que sejam LGBTQIA+, devem dublar personagens representativos, isso seria limitar seus trabalhos. Já que falamos de voz, se ela combina e consegue entregar uma boa interpretação. Mas digo que é necessário, sempre que possível, dar a oportunidade para que eles façam personagens que representam histórias e dilemas que são vividos por estes na vida real, pois só assim a representatividade se faz completa. Então levante sua bandeira e reafirme a importância de ser totalmente representado.
Como uma amigue me disse: “não existe ninguém melhor para dublar uma sapatão, que outra sapatão”. Não só pelo fato de ser, mas por conhecer e poder ajudar a recriar a versão brasileira com mais semelhança a nossa realidade. Não é qualquer pessoa que conhece nosso dicionário, o nosso pajubá.
O “x” da questão é simples, não adianta produzir séries e filmes da diversidade, se não houver inclusão desse grupo em todos os setores da produção dessas obras, e isso incluí a dublagem. Por causa da cobrança do público, portas têm sido abertas, e assim temos mais LGBTQIA+ nas artes, falta agora isso chegar na dublagem. Enquanto isso não se torna realidade, nas assembleias de dubladores, as reivindicações de nosses irmanes são vistas como mimimi e nos corredores dos estúdios ainda se pode ouvir piadas machistas, misóginas, homofóbicas e transfóbicas.
Para esse Dia do Orgulho LGBTQIA+ e para o Dia dos Dubladores, o meu desejo é que pessoas de todas as cores possam encontrar e ocupar lugares que sempre foram um sonho inalcançável, e que possam viver sem medos e preconceitos por serem que são. Que nosso planeta seja colorido. Um beijo para todas pintosas dentro do meio desse Brasil. Alcancem o poder e façam o caminho das próximas gerações da lacrolândia ser uma caminhada mais fácil.