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Fábio Lucindo

CINCO

Nesta última semana participei de um Podcast chamado “Arte de Ouvir” com os colegas Michelle Giudice, Cidália Castro e Saulo Galvan. O tema do episódio era dublagem, claro, mas a partir de duas perspectivas distintas: música e atuação.

Saber cantar e dublar são apenas duas das inúmeras habilidades básicas de qualquer ator profissional, se na prática isso não ocorre, o fato se deve ao enorme déficit pedagógico generalizado das artes no Brasil. (assunto para outro texto)

O que diferencia um ator de um cantor?

Afinal, cantar não é interpretar uma música?

Dentre as observações de Cidália, a que mais me interessou foi sua declarada preferência por um ator que entregue uma sonoridade que lhe contagie emotivamente em vez de alguém que execute notas com perfeição. 

Digo o mesmo: prefiro um ator que se emocione e me emocione enquanto dubla que aquele que simplesmente comece e termine frases em sincronia perfeita. A digitalização do áudio já resolveu essas questões. 

O que me leva a seguinte conclusão:

Seja qual for o seu campo de trabalho, o que diferencia o seu modo de fazer é a carga emotiva que potencializa suas ações. Isso é transmissível e identificável. Num plano tão sutil quanto poderoso. É o que nos rege, literalmente. Uns chamam de carisma, talento, dom, identidade, maneirismo, jeitinho, jeitão…é como cada um desfruta sua singularidade.

A intersecção entre dublagem e música vai além daqueles momentos específicos e literais em que uma música precisa ser dublada.

Extrapolo: pra mim, toda dublagem, assim como toda obra de arte, ˆaspira continuamente a condição de músicaˆ, obrigado Walter Pater.

A dublagem deixa isso mais explícito pois também tem nos sons, matéria etérea, sua base concreta para a sedimentação de sentidos. O resto é variação linguística.

Desconstruir o ofício do dublador é uma das tarefas que mais me dá prazer ultimamente, tornou-se quase uma paranoia. Separar os âmbitos da dublagem em gavetas e depois me distanciar para observar o gaveteiro que surge é algo que me interessa. (Talvez porque eu jamais tenha construído dois gaveteiros iguais até hoje)

Ei-lo

O (gaveteiro) que se forma neste domingo é um grande baú, ou melhor, uma caixona de música que, quando aberta, em vez de uma bailarina, vemos uma pequena dubladora rodopiando em volta de um microfone.

Agora esqueça essa imagem fofa e veja se meu raciocínio faz sentido.

O filme é o concerto

O texto traduzido é a partitura

A ritmo de fala do ator da obra original impõe o compasso

A tonalidade se dá pela interpretação 

Cabe ao dublador fazer suas próprias notações de pausas e respirações quando ensaia para executar da melhor forma possível seu ˆsopro instrumentalizadoˆ durante a gravação.

O trabalho é executado em uníssono, carrega a mesma mensagem, possui o mesmo objetivo, e o atinge através de caminhos completamente distintos. 

Cidália e Saulo chegaram até a dublagem através da música. Eu e Michelle pelo caminho da atuação. Esses campos vêm se retroalimentado de maneira cada vez mais constante dentro da dublagem a ponto de causar certos ruídos. Há uma tendência, principalmente em produções Disney, de escolher um ator para dublar um filme a partir de sua performance como cantor, o contrário, que eu saiba, só aconteceu uma vez. (Fábio Azevedo em A Bela e a Fera)

Eis a crise: O que é melhor, ensinar um cantor a dublar ou ensinar um dublador a cantar

A resposta clássica:

Depende.

O assunto é amplo e espinhoso e talvez eu já tenha me alongado demais por aqui…pra terminar e deixar um leve gancho para o próximo texto, digo.

Dublador ruim é aquele que ˆcanta^


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