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Eterno.

Eterno.

Ponto final.

Tão curto, tão simples, tão rico, tão tímido, tão sonoro, tão estridente, tão gutural, tão terno e tão revolto como as palavras que teus finos lábios desenhavam diante do calor da platéia, das lentes das câmeras, ou apenas na companhia daquele solitário microfone que se faz epítome para o teu nome.

Orlando.

Ah, Orlando…

Tão linda, tão longa, tão leve e tão breve foi a tua vida, mas tão árida, tão doída e tão temida era a tua partida.

Teu poder fez o século ser seco. Fez o cem ainda ser cedo. Fez o próprio tempo ter medo. Medo de ser conivente com o dia da tua ida. A vida, a presença, o movimento, a ternura e o amor que pulsavam em ti eram tão vorazes que por um momento, por um breve momento, achamos que os ponteiros haviam parado, que os sinos haviam se emudecido, que a areia tivesse desistido de escorrer como se de carne fossem, como se ouvidos tivessem, como se eternamente pedissem “bis, bis, bis!” para que não tivesse mais fim o teu espetáculo!

Como é cruel o encanto de um artista, não?

Como é cruel o último ato. Como é cruel a magia de um palco. Que feitiço frágil é o do ator, que ri, que salta, cai, canta, espanta, chora e dança, que nos faz criança e que tão de repente nos deixa, em breve reverência, desaparecendo para além de um fechar de cortinas. É a pétala que cai da cerejeira, é o sopro de um dente-de-leão, é o estouro dos fogos de artifício, é o brilho de uma estrela cadente. É o puro. É o belo. É o breve. É o efêmero. É algo que nasce, que encanta, nos cativa e se vai. Um momento tão único, tão etéreo, tão raro, tão sincero, que mesmo que durasse por cem anos ainda assim não seria mais do que o piscar de um olho.

Somos ingênuos, não entendemos, não aceitamos. Somos crianças. É difícil de acreditar que a Máquina do Mistério agora está vazia, que a Caverna do Dragão jaz tão silenciosa, que a Vila dos Smurfs amanhece fria, que apagaram-se as luzes da Escolinha do Professor Raimundo, que a Mansão Foster fecha as suas portas e que não há mais ninguém sentado na velha cadeira de balanço do Bosque dos Cem Acres.

E se…

E se pudéssemos guardar em um potinho só pra nós um pedacinho da tua alma? E se pudéssemos ter para sempre, só para nós cada momento, cada sentimento, cada cor, cada ritmo, cada nota, cada brilho, cada estribilho da tua melodia? E se pudéssemos continuar, recomeçar, rebobinar, saltar, viver e reviver para sempre este show?

Impossível.

Impossível emoldurar a arte viva. Impossível calar a voz viva. Impossível guardar a alma viva.

Teu espírito não se foi, Orlando. Ele vive, ele permeia, ele completa, ele dá voz.

Não é sobre o corpo que cede ao tempo. Não é sobre o fim da caminhada. Não é sobre o fechar da cortinas. Não é sobre a poeira no microfone.

É sobre o que pulsa. É sobre o que vive. É sobre o que ama. É sobre o que vibra.

É sobre a alegria de um cãozinho querido, sobre os graves de um vilão maligno, sobre os conselhos de uma sábia coruja, sobre a coragem de um marinheiro, sobre os quebrados e requebrados de Vila Isabel, sobre acabar com os planos de Gargamel, sobre o hilário, sobre o amigo imaginário, sobre o coração e as três cores que traduzem tradição, esse mundo, esse universo, esse infinito, essa fantasia, esse legado que existe, flui e canta nos vales e cristas do timbre de uma voz.

A voz.

Voz que ensina, que ilumina, que fascina pela tua disciplina. Voz que marca, que acalma, que colore, que inspira, que respira e suspira. Que existe e resiste. Que nasce e renasce. Que conta, canta e encanta.

Visceral é a tua obra.

Vasto é o teu arsenal.

Valsa era a tua voz.

Vá.

Vá, Orlando.

Vá em paz.

Vá eterno ao etéreo.

Obrigado.

Evoé.

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